Como as ferramentas da qualidade beneficiam as obras rodoviárias na redução de impactos ambientais

Sexta, 2 de julho de 2021  .  Leitura: 8

Os impactos ambientais são inerentes à execução de qualquer tipo de obra, sendo amplamente abordados nos estudos que subsidiam seu processo de licenciamento ambiental, conforme previsto em diversos dispositivos legais dos quais se destacam a Lei nº 6.938/81, denominada Política Nacional do Meio Ambiente (ou para os mais íntimos, PNMA) e as Resoluções Conama nº 001/86 e nº 237/97.

Vou aqui me ater às obras rodoviárias, com as quais trabalhei a maior parte de minha carreira (incluindo a pré-carreira, também conhecida como estágio).

Aqueles que trabalham nessa área sabem que os impactos ambientais são, na maioria das vezes, os mesmos para obras em diferentes rodovias. Claro que características físicas da região interferem no tipo de impacto e na frequência de sua ocorrência. Por exemplo: latossolos com características mais arenosas tendem a ser mais suscetíveis a dinâmicas superficiais ocasionadas pelo escoamento das águas provenientes de precipitações pluviométricas, sendo a erosão laminar um impacto já esperado (e em grande frequência).

Mas, se os impactos ambientais já são conhecidos, por que eles ainda ocorrem nas obras? Ou ainda, por que eles ocorrem em grande quantidade?

Digamos que você esteja participando da execução de uma obra rodoviária. O primeiro passo seria ter conhecimento dos projetos e estudos para verificar quais impactos ambientais podem ser deflagrados em decorrência das obras. Em seguida, verificar se há indicação de medidas de proteção que minimizem ou evitem que esses impactos ocorram (na maioria das vezes, fica a cargo da construtora decidir qual dispositivo implantar), além de averiguar se os materiais necessários estão disponíveis.

Pois bem, a obra começa, você implementa diversos dispositivos de proteção ao longo das obras e, mesmo assim, ocorrem impactos. E mais, eles ocorrem diversas vezes ao longo do trecho de obras e chegam a ser, até mesmo, reincidentes (ocorrem em um mesmo local após sua mitigação).

Isso acontece por diversas razões, dentre as quais: padronização das medidas de proteção e de correção/mitigação aplicadas, conhecimento limitado da equipe, indisponibilidade de recursos específicos para o meio ambiente, entre outras. Cada atividade exige uma medida de controle e proteção ambiental diferente, e nada melhor que aplicar ferramentas que caracterizem, monitorem, identifiquem responsáveis, proponham soluções ou mesmo agilizem os processos envolvidos nas atividades das obras rodoviárias. É aí que entram as ferramentas da qualidade.

Existem várias ferramentas para os mais diversos fins. Algumas delas poderiam tranquilamente ser aplicadas em obras para reduzir a ocorrência de impactos ambientais. A seguir, cito 5 (cinco) dessas ferramentas:

 

Mapeamento de processos

Identificar os processos envolvidos nas diversas atividades necessárias para execução das obras é essencial, pois assim podemos identificar não apenas os impactos relacionados a cada atividade, como também em que momento e por que podem ocorrer;

 

5S

Implementar os sensos de utilização, organização, limpeza, padronização e disciplina é fundamental para melhoria da eficiência de processos. Manter as frentes de serviços limpas e organizadas, apenas com os materiais necessários para as atividades em execução e cultivando essa cultura entre os funcionários possibilita a redução no tempo de implementação e a melhoria no desenvolvimento das atividades;

 

Lean A3

É uma ferramenta para proposição de soluções aos problemas identificados, contemplando dados básicos sobre os problemas (tipo, frequência, duração etc.), medidas já adotadas, metas, análise de causa raiz (brainstorming, diagrama de Ishikawa, diagrama de Pareto, 5 porquês, entre outros), definição de plano de ação, progresso e padronização. Notadamente, obtém-se uma caracterização muito mais detalhada dos problemas, no caso, os impactos ambientais, possibilitando a não reincidência destes;

 

Indicadores-chave de performance (Key Performance Indicators – KPIs)

Ferramentas para medição e o consequente nível de desempenho para um determinado processo. Aplicar essa ferramenta aos aspectos ambientais identificados nas obras pode ser um poderoso estímulo para a disseminação da cultura ambiental e de sustentabilidade. Monitorar e medir aspectos como consumo de energia, de água e geração de resíduos, buscando sempre a melhoria desses indicadores através da adoção de novas medidas, como implementar sistemas de reúso de água através da captação de água de chuva ou a implantação de bacias/cacimbas para lavagem de bica e balão de caminhões betoneira através da recirculação da água podem significar não apenas uma cultura sustentável, mas também redução de custos de aquisição.

 

Gestão à vista

Publicar e manter em exposição informações relevantes, dados de performance, indicadores, entre outros, são uma importante ferramenta que incentiva o engajamento dos colaboradores, influenciando em seu comportamento e atitude, além de aprimorar a cultura organizacional.

 

Depois da apresentação dessas cinco ferramentas, dentre tantas outras, vai ser difícil não querer fazer um projeto-piloto em uma obra, não é mesmo?

Pois bem, dada a grande variedade e quantidade de ferramentas da qualidade que poderiam ser aplicadas às questões ambientais nas obras rodoviárias, torna-se necessária a avaliação de cada organização (no caso, cada construtora) para implementação dessas ferramentas. Lembre-se sempre que quantidade não implica, necessariamente, em qualidade.

O emprego dessas ferramentas pode e deve ser gradual, sendo necessária a avaliação da satisfação da Direção das empresas em relação aos resultados obtidos, no caso, a ocorrência de impactos ambientais durante a execução das obras.

Não nos esqueçamos ainda de um aspecto fundamental dos impactos ambientais: eles podem ser passíveis de sansões quando constados por órgãos ambientais de fiscalização! É só consultar a Lei nº 9.605/98 – Lei de Crimes Ambientais, o Decreto nº 6.514/08 e tantos outros diplomas legais para saber se esses impactos podem resultar apenas em uma multa ou na restrição da preciosa liberdade. Eis um mais belo incentivo para a implementação de ferramentas da qualidade nas obras rodoviárias!

 

Nataly Fujisaki é Engenheira e aluna do Programa de Pós-graduação em Sistema de Gestão Integrada do Bureau Veritas - Este artigo foi produzido na disciplina Gestão da Qualidade e Produtividade, em maio de 2021, sob orientação da Professora Carolina de Carvalho.